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Eu sinto, mas não sei o que eu sinto.

  • Foto do escritor: Samara Muniz
    Samara Muniz
  • 30 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 5 de set. de 2024


Embarquei em uma jornada que me afastou da minha querida terra do Brasil e me trouxe para o acolhimento dos Estados Unidos. Ao pisar nessa nova terra, as diferenças me atingiram como uma sinfonia de sentidos. A paisagem arquitetônica passou por uma metamorfose - casas de concreto com portões imponentes transformaram-se em estruturas acolhedoras de madeira que pareciam convidar os passantes a parar e conversar. A atmosfera mudou do clima quente e constante que eu sempre conheci, com suas suaves oscilações de frio, para um reino de estações bem definidas, onde o frio no ar parecia penetrar até os ossos.


A língua, antes tão familiar quanto o meu próprio batimento cardíaco, agora parecia estranha em meus lábios. Conversas fluíam ao meu redor, formando uma cadência musical que eu lutava para compreender plenamente. Até o aroma das ruas se transformou; o cheiro de frutas recém-amadurecidas foi substituído pelo aroma terroso de pinheiros e pelo farfalhar das folhas caindo ao chão durante a dança encantadora do outono.


Com essas mudanças sensoriais, uma infinidade de emoções brotou em mim, criando uma tapeçaria de experiências que era tão complexa quanto cativante. Vi-me lutando com o desconhecido, mas em meio às incertezas, uma coisa era certa: eu sentia.


Nos dias que antecederam minha partida, ao revelar meus planos de deixar minha terra natal, fui recebido com uma mistura de reações. "Como você se sente?" as pessoas perguntavam, e eu lutava com essa pergunta, sem saber como articular o caleidoscópio de emoções que se agitavam dentro de mim. Havia, sem dúvida, empolgação, mas também havia uma apreensão subjacente que eu não conseguia verbalizar completamente.


Enquanto estava no aeroporto, cercado por minha família chorosa, senti o peso da minha decisão de uma maneira profunda. Os abraços trocados não eram apenas físicos; eles continham o poder da conexão e o anseio pelo familiar. Ao me afastar deles, permiti que as lágrimas caíssem, o vazio no meu estômago agora ecoava o vazio que sentia naquele momento. Estava deixando para trás não apenas um lugar, mas um pedaço do meu coração.

No entanto, em meio aos desafios e contrastes, aprendi que é no meio do desconhecido que encontramos nosso verdadeiro eu. A jornada foi uma cacofonia de emoções, por vezes avassaladora, mas sempre autêntica. Descobri que abraçar o desconhecido significa abraçar as complexidades das nossas próprias emoções, permitindo-nos sentir profundamente, mesmo quando as sensações são difíceis de definir.


Esse caminho iluminou a verdade de que a autoconsciência é uma jornada sem um fim definitivo. Trata-se de abraçar a fluidez das nossas emoções e experiências, encontrar força nos momentos de vulnerabilidade e reconhecer que, em meio às diferenças entre duas terras, há um fio comum que nos une a todos: o poder de sentir e a resiliência que ele traz.

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© Samara Muniz 2024

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